Reserva do goleiro no Santos, entre 1994 e 2000, Nando hoje busca voos mais altos, literalmente
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Entre 1994 e 2000, Nando disputou apenas seis partidas como goleiro do Santos
Quando era considerado
uma das grandes revelações do Santos na posição, Antonio Fernando
Remiro Barroso nunca foi chamado de goleiro voador. Não pulava na bola
desnecessariamente. Tinha imagem discreta. Por isso, chegaria longe,
diziam os responsáveis pelas categorias de base na Vila.
Sim, ele é voador e foi longe.
Mas não no futebol. Nando, atualmente com 37 anos, integrou o elenco
profissional do Peixe entre 1994 e 2000. Hoje é piloto de Airbus e
comanda voos nacionais e internacionais para a TAM. “Não tenho
arrependimentos. Realizei os meus dois sonhos de infância. Joguei
futebol e consegui me tornar piloto de avião”, reflete.
Os jovens estão desculpados se
não tiverem a imagem dele na cabeça. Mas é provável que os torcedores
veteranos se lembrem do tempo em que era chamado de o futuro camisa 1
titular do Alvinegro. A partir do momento em que chegou ao clube, em
1988, aos 14 anos, foi preparado para isso. Tinha tudo para dar certo.
Foi titular no infantil, juvenil e juniores. Quando chegou à equipe
principal, não conseguiu se firmar. "Lamento não ter tido oportunidade.
Era uma época diferente, o Santos estava na fila e ninguém tinha
paciência com garotos."
Conselho
Mesmo assim, conseguiu ser
campeão. Era reserva de Zetti na conquista da Copa Conmebol de 1998.
Pouco para em quem se apostava tanto. “Acho que o Nando precisa sair.
Ele tem de jogar”, aconselhou o titular, no ano seguinte.
Ele ficou numa encruzilhada.
Esperar em Santos pela realização da promessa que escutou durante anos
ou buscar outra vida? “Depois que saí da Vila, percebi que dificilmente
conseguiria voltar a um clube grande.” Era hora de alçar outros voos.
Passou por São José e Independente, entre outras equipes do interior.
Havia realizado o desejo de ser
titular, mas é difícil, para quem se acostumou às mordomias de um time
de porte, peregrinar por pequenas agremiações. Ainda mais para quem
havia sido uma promessa. Num momento em que os jogadores se desmotivam,
gastam tempo esperando a carreira acabar ou se preparam para o manjado
curso de educação física, Nando se reinventou. Da expressão goleiro
voador, ficaria apenas a segunda palavra.
"Passando de carro por Limeira
(SP), vi um outdoor anunciando curso para pilotagem de avião." Num
impulso, se matriculou. Frequentou as aulas, mas não faria a prova final
por causa dos jogos. Uma fratura num osso da face o salvou do futebol.
Deu-lhe a chance de passar no teste e embarcar na carreira de aviador.
Nova carreira
"Meu pai sempre foi apaixonado
por aviões. Meu irmão é piloto. Peguei gosto. Fiquei algum tempo no
futebol, mas resolvi parar e me dedicar à nova carreira."
Dezenove anos após ter deixado
Barretos (SP) para começar a vida debaixo das traves, Nando passou a ter
contato com jogadores de outra forma. apenas em aeroportos. Nada de
treinos e concentrações, a não ser a espera pelo chamado para pilotar
alguma aeronave de grande porte. "Aos poucos, você vai deixando de lado
as coisas que um dia quis. Já encontrei algumas pessoas do futebol
depois de virar piloto. Como o Marcelo Martelotte (ex-goleiro de
Bragantino, Santos e auxiliar de Muricy Ramalho). Ele tomou um susto",
diz.
Exatamente o oposto ocorreu com o pai. Ele sempre quis ter um filho comandante. Tem dois. Um deles, goleiro voador.
Entrevista
Nando_Piloto de avião e ex-goleiro do Santos
'Pilotar avião e jogar no gol são duas funções que não permitem erros'
DIÁRIO_ Como foi a transição de goleiro para piloto?
NANDO_ Mais fácil do que se
pode pensar, embora sejam carreiras tão distintas. Meu pai sempre adorou
aviões. Só não foi piloto porque meu avô não apoiou. Tenho um irmão que
seguiu essa vida. Estava acostumado a conviver com isso.
Você era uma grande aposta do clube. Por que você não teve mais chances ou uma sequência de partidas?
Goleiro é complicado. Os
titulares da minha época foram Edinho, Zetti, Sérgio... Eles não davam
brechas, não se machucavam. Minha maior sequência foi de dois jogos,
quando o Zetti teve uma operação no joelho.
Fica aquela sensação do
que poderia ter acontecido com a sua carreira se tivesse insistido no
futebol ou ficado um pouco mais no Santos?
Prefiro pensar que fiz as
coisas que pretendi fazer na vida. Quando decidi começar o curso de
aviação, achei que seria só um passatempo, mas as portas foram se
abrindo. Na época da prova, tive uma contusão e fiquei 30 dias parado.
Se estivesse jogando na quinta-feira e no domingo, não conseguiria ter
feito o teste.
Talvez hoje seja
natural, mas, na época, quando você disse que abandonaria o futebol para
ser piloto de avião, as pessoas se assustaram?
Ah, sim. São duas áreas que
não têm nenhuma ligação. Mas as pessoas que me conheciam mais de perto
já sabiam que a minha família gostava do ramo da aviação. E eu também.
Tinha tanto contato quanto era possível. São duas funções que não
permitem erros, piloto e goleiro (risos)...

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